Tudo o que somos e tudo o que temos, devemos somente uma vez a nosso pai, mas duas vezes a nossa mãe.

Ditado Malinês
Quem teve a oportunidade de ouvir algum contador de histórias africano sabe que são incontáveis as vezes em que seus contos são introduzidos ou finalizados por algum ditado popular.

Hoje encontrei um ditado que certamente ainda vai colar em uma ou muitas das histórias que ainda hei de contar: 

"É muito fácil ouvir uma árvore que tomba. Mas ninguém ouve toda uma floresta a crescer." - provérbio africano.

Essa preciosidade eu encontrei ao final de um texto do Daniel Tygel, intitulado Economia solidária - o despertar de um novo movimento social.


Trecho de Le livre des chemins: contes de bon conseil pour questions secrètes

"Os contos são seres viventes. Evidentemente eu não tenho nenhuma prova. Pouco me importa. É uma convicção secreta mas eminentemente prática. É fato que os contos não deixam de dar respostas quando eu os conto. Isso é feito com bondade. Eles me ensinam coisas que eu jamais pensei. Eu tenho com eles uma relação feliz e simples por ter por eles amizade. Tu podes também entrar neste círculo de contos viventes, se quiseres. É simples. É necessário não mais que desejo, inocência e uma curiosidade desperta, sem a qual não é verdadeiramente possível a descoberta. É preciso confiança, não apenas por acreditar na minha palavra, mas por te dar a vontade de verificar por você mesmo que o conto é aqui e lá e que o conto te conhece tão bem por te murmurar em segredo as coisas verdadeiramente úteis em sua vida."

Com a visita tão querida da Marina, amiga que agora está morando na França, pude conhecer esse trecho do Le livre des chemins: contes de bon conseil pour questions secrètes (O livro dos caminhos: contos de bom conselho para questões secretas) de Henri Gougaud. Ele estava na estante desde que, em estado de encantamento com sabedoria de Hassane Kouyaté, contador de histórias pertencente à uma linhagem de Dieli (griô) conhecida desde o século XIII, o encomendei, por sua indicação, na livraria cultura. É maravilhoso.

Para guardar no baú do contador

"Há muitos séculos, quando desejar adiantava alguma coisa, vivia um rei cujas filhas eram bonitas, mas a mais jovem era tão linda que até o sol, que do alto via tanta coisa, não podia deixar de se maravilhar quando iluminava o rosto da moça."

É assim que começa a história O príncipe sapo no livro Contos dos Irmãos Grimm compilados por Clarissa Pinkola Estés. 

Literalmente fabulosa a fórmula do início da história: há muitos séculos, quando desejar adiantava alguma coisa...

E me encantou a metáfora para descrever a beleza da filha mais jovem do rei. 



Trecho de "Achadouros" de Manoel de Barros

Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade.

Guimarães Rosa – Trecho de Campo Geral

"Mãe, que é que é o mar, mãe? Mar era longe, muito longe dali, espécie de lagoa enorme, um mundo d'água sem fim. Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. 'Pois mãe, então o mar é o que a gente tem saudade?..."


Cantos de Trabalho - Cia. Cabelo de Maria


“O CD “Cantos de Trabalho” surge a partir das canções registradas por Renata Mattar. A musicista vem pesquisando cantos de trabalho há mais de dez anos, fazendo gravações, participando de rituais e festas, aprendendo versos e danças em diversas localidades do país. Buscando comunidades que ainda trabalhassem em mutirão e que utilizassem a música na lida, a pesquisadora recolheu vasto material, que agora resulta no CD realizado pela Cia. Cabelo de Maria, sob direção de Renata Mattar.

As cantigas apresentadas no CD vêm das destaladeiras de fumo de Arapiraca (AL), das descascadeiras de mandioca de Porto Real do Colégio (AL), das plantadeiras de arroz de Propriá (SE), da farinhada da comunidade de Barrocas (BA), da colheita de cacau de Xique-Xique (BA), da bata do feijão de Serrinha (BA) e das fiandeiras de algodão do Vale do Jequitinhonha (MG)….”

fonte: http://blog.engaudio.com.br/2009/03/12/cia-cabelo-de-maria-projeto-cantos-de-trabalho/

Conto histórias porque

Contar histórias para mim é um jeito de honrar as vozes ancestrais e os povos tradicionais. É meu jeito de acreditar em outras formas de aprender e ensinar.

Os segredos da aranha

"Vendo-se só com a Aranha, a boneca regalou-se de fazer quantas perguntinhas quis.
- Acho muito bonito esse seu sistema de trazer o carretel dentro da barriga - disse ela. - Só não compreendo como a senhora faz para engolir um carretel...
- Eu não engulo carretéis, menina - explicou a Aranha. - Nós nascemos com o carretel dentro.
- E quando acaba?
- Não acaba nunca.
- Hum! Já sei! A senhora tem fábrica de linhas dentro da barriga, não é?
- Deve ser. Nunca entrei dentro de mim para saber. [...] Minha mãe foi comida por uma garoupa.
- Coitada! - exclamou Emília deveras compungida. - E era também costureira?
- Era, sim. Todas as aranhas são costureiras.
- E tinha também carretel na barriga?
- Está claro. Basta ser aranha para ter carretel na barriga.
- E de que cor era a linha?
- A cor não varia. É sempre a mesma para todas as aranhas. 
- Que pena! - exclamou Emília triste. - Gosto muito de cor vermelha e se soubesse de uma aranha de linha vermelha, iria morar com ela.
- Para quê?
- Para ver. Para sentar debaixo da jabuticabeira e ver aquela linha tão linda que sai, sai, sai e não acaba mais. [...]"

(Monteiro Lobato, Reinações de Narizinho) 

O primeiro Encontro em Roda no Núcleo Rural Córrego do Urubu foi assim...

A história de nosso primeiro Encontro em Roda é a história de como descobrir que uma criança e uma senhora tornam-se iguais brincando de pique-esconde... que as crianças ainda apreciam muito o gosto da cana-de-açucar nesse mundo cheio de confeitos artificiais... que as histórias são mais que passa-tempo e guardam significados que alimentam nossa fé... que aprender os passos de uma dança é nos permitir brincar se privilegiarmos a busca da descontração mais que a perfeição... que a Roda é um espaço que abriga nossos dons e talentos... que em nossa comunidade tem gente que faz coisas bonitas que podem virar presentes... enfim, que o encontro pode nos remeter a algo do essencial.

Não éramos muitos, mas experimentamos um encontro gostoso. Primeiro chegamos eu, Ananda e Julia, escolhemos um bom lugar e adornamos o centro da Roda carinhosamente. Ananda coletou pétalas de flores e rosas para enfeitar e colorir o centro. Logo chegou a Cida e conversamos um pouco sobre a vida, sobre contar histórias. A Cida contou que está fazendo um curso de leitura dramática e poética. Depois de segurar e brincar com a Julia, Cida foi brincar de pique-esconde com a Ananda. Gente! Que encontro! Ananda e Cida, uma criança e uma senhora que encontraram–se numa idade fora do tempo, as duas eram iguais brincando de pique-esconde, desde que não se considere a velocidade da Ananda para correr que deixa a maioria dos adultos no chinelo. Pude testemunhar com meus próprios olhos que, quando nos permitimos brincar, a alegria e o riso não mudam muito com a diferença de idade.

Depois chegou a Chandra bonita e animada. Contou que estava na Torre de TV vendendo roupas e acessórios. Ela vende lenços que a mãe manda da Índia e calças saruél que ela corta e a costureira arremata. Entrem no blog www.kailasharts.blogspot.com para conhecer o trabalho da Chandra. Quem sabe pode virar um presente para alguém? Quem sabe esse alguém é você mesmo(a)? Quem sabe possamos fomentar uma economia dentro de nossa comunidade?

Logo mais chegou a Lili, que não mora no Urubu, é minha irmã, e a meu convite veio colorir nossa roda comunitária com seus filhotes Ive e Ian. Neste momento Cida já cortava umas canas que havia ganhado de alguém no dia anterior e estavam escondidinhas em algum cantinho da Oca. As crianças a rodearam, todos provaram da cana, que estava tão concorrida que nem dava para começar a roda. Depois de todas a “lumbriguinhas” acalmarem-se, sentamo-nos em roda, eu, Ananda, Cida, Chandra, Lili, Ian e Ive. Julia passeava pela Oca com o Sérgio que chegou nesse meio tempo para cumprir a missão de cuidá-la. Era hora da história, mas essa não dá para contar aqui. Eu contei uma, a Lili contou outra dizendo que era uma história muito significativa neste momento de sua vida, uma história sobre fé. Chandra nos contou uma curiosidade muito curiosa sobre a incrível semelhança entre Brasília e uma cidade egípcia do ano 200 d.C. (se não me engano)... Fiquem curiosos! E Cida nos presenteou com uma leitura de Clarice Lispector, já exercitando seus talentos em leitura dramática e poética. As crianças, a esse tempo, já tinham corrido dali para brincar de pique-esconde. Tirando minha história, tudo ali surgiu no instante, de improviso, refletindo a descontração e a naturalidade de nosso estado de espírito e consagrando nossa roda um espaço de troca.

Daí, chegou Lana, que não mora no Urubu, para adornar nosso encontro com sua presença e sua ginga bonita bem na hora que nos preparávamos para dançar. Dançamos “Olhos que Falam”  uma coreografia composta por um homem inspirado na história de um casal de amigos cuja mulher, por alguma razão, perdeu a fala. É uma coreografia muito delicada e cheia de detalhes, boa para aprender em um grupo pequeno.

Chegou, então, a Sol e juntou-se a nós. Dançamos, repetimos, erramos, acertamos e dançamos mais. Já bem escuro e frio, resolvemos parar. Nos abraçamos em Roda. Batemos os pés no chão ritmadamente ao som de uma música africana, nos aterramos... até sentir que era suficiente.

Eu contei uma historinha curta que ouvi a Lili contar certa vez e que posso contar agora. Afinal, quem leu esse texto até aqui, merece. Quando somos bebê, no ventre de nossa mãe, estamos ligados pelo cordão umbilical e vivemos uma relação de receber, que mantemos por muito tempo... Mas chega uma hora que precisamos cortar esse cordão e estabelecer uma nova ligação... com a Mãe Terra, a Pacha Mama, e essa ligação é de receber, mas é também de dar.

Eu reforcei o propósito do Encontro em Roda que é, como diz o próprio nome, um momento para nós da Comunidade (do Urubu e amigos do Urubu) nos encontrarmos. Estava feliz porque cada um dos que estavam presentes eram pessoas que eu encontro bem menos do que gostaria e acho que os outros sentiam o mesmo e, que sendo assim, acredito que o propósito do encontro foi cumprido. Cida disse que foi um encontro doce, com gostinho de cana-de-açucar. Sol mencionou estar feliz com a proposta de termos um espaço para e tão somente nos encontrarmos.

Nos despedimos marcando o próximo Encontro em Roda para o último domingo do mês de maio, dia 30, às 16 horas. Que este encontro seja regado com mais presenças, mas que seja regado, especialmente, com a presença inteira de cada um. Assim poderemos, em comunidade, construir uma ecologia social e uma ecologia humana em par com a ecologia ambiental.


Anochece. Hay un pequeno fuego encendido bajo las estrellas. El narrador - el de hoy, el de hace 5000 años en Sumeria o hace 500 años en la Patagonia - sigue ejerciendo su oficio. "Había una vez..."

(em Cuentos de duendes de la Patagonia de Néstor Barron)
Os mitos, contos, lendas (...) frequentemente constituem para os sábios dos tempos antigos um meio de transmitir, ao longo de séculos, de uma maneira mais ou menos velada, pela linguagem das imagens, os conhecimentos que, recebidos desde a infância, ficarão gravados na memória profunda do indivíduo, para ressurgirem, talvez, no momento apropriado e iluminados por um novo sentido (...). Eles são a mensagem de ontem, destinada ao amanhã, transmitida hoje.

Hampâté Bâ, citado em A palavra do contador de histórias de Gislayne Avelar)

Alegria e Magia

Certa vez uma cozinheira, em Gampo Abbey, estava se sentindo muito infeliz. Como muitos de nós, ela alimentava sua melancolia com suas ações e pensamentos. Hora a hora seu humor ficava mais pesado. Ela decidiu tentar arejar suas emoções, que cresciam, fazendo biscoito de chocolate. No entanto, seu plano saiu pela culatra - ela os queimou todos. Nesse ponto, em vez de jogar os biscoitos queimados no lixo, ela os colocou no bolso e saiu para um passeio. Ela andou pela estrada de terra, com a cabeça baixa e a mente queimando de ressentimento. Ela dizia para si mesma: E então, onde estão toda a beleza e magia das quais sempre ouço falar? Naquele momento ela levantou o olhar. Lá, andando em sua direção, vinha uma pequena raposa. Sua mente parou, ela prendeu a respiração e observou. A raposa sentou-se bem em frente dela, olhando-a com expectativa. Ela enfiou a mão no bolso e tirou alguns biscoitos. A raposa os comeu e, devagar, foi embora. Ela contou esta história para todos, na abadia, dizendo: "Hoje eu aprendi que a vida é muito preciosa. Mesmo quando estamos determinados a bloquear a mágica, ela atravessará e nos despertará. Aquela pequena raposa me ensinou que não importa o quão fechados estamos, sempre podemos olhar para fora de nosso casulo e nos conectar com a alegria".

(Pema Chödrön, em Os lugares que nos assustam, pg. 80)

Avesso de bordado

Você já viu avesso de bordado? Tem nó, tem linha pendurada, é uma confusão! Não dá nem para acreditar que aquele lado feioso faz parte do lado direito, todo bonito. Pois é, o avesso da gente é parecido com isso. Tem coisas que às vezes a gente não quer mostrar, só quer esconder.
A beleza, porém, está em saber que todo direito da gente tem avesso, ou todo avesso tem seu direito, assim como toda sombra tem sua luz.

(EVA FURNARI - Coleção o Avesso da Gente)

sobre Fábulas

[...] as fábulas são, "tomadas em conjunto, em sua sempre repetida e variada causuística de vivências humanas, uma explicação geral da vida, nascida em tempos remotos e alimentada pela lenta ruminação das consciências camponesas até nossos dias; são o catálogo do destino que pode caber a um homem e a uma mulher, sobretudo pela parte de vida que justamente é o perfazer-se de um destino: a juventude, do nascimento - que tantas vezes carrega consigo um auspício ou uma condenação - ao afastamento da casa, às provas para se tornar adulto e depois maduro, para confirmar-se como ser humano. E neste sumário desenho de tudo; a drástica divisão dos vivos em reis e pobres, mas sua paridade substancial: a perseguição do inocente e seu resgate como termos de uma dialética interna a cada vida; o amor encontrado antes de ser conhecido e logo depois sofrimento enquanto bem perdido; a sorte comum de sofrer encantamentos, isto é, de ser determinado por forças complexas e desconhedidas, e o esforço para libertar-se e autodeterminar-se como um dever elementar, junto ao de libertar os outros, ou melhor, não poder libertar-se sozinho, o liberta-se libertando; a fidelidade de uma promessa e a pureza de coração como virtudes basilares que conduzem a salvação e ao triunfo; a beleza como sinal de graça, mas que pode estar oculta sob aparências de humilde feiura como um corpo de rã; e sobretudo a substância unitária do todo: homens animais plantas coisas, a infinita possibilidade da metamorfose do que existe".

(de Ítalo Calvino, Fábulas Italianas, citado por Regina Machado em Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias)

O guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Fernando Pessoa

Cantiga dos Pastores (Adélia Prado)

À meia noite no pasto,
guardando nossas vaquinhas,
um grande clarão no céu
guiou-nos a esta lapinha.
Achamos este Menino
entre Maria e José,
um menino tão formoso,
precisa dizer quem é?
Seu nome santo é Jesus,
Filho de Deus muito amado,
em sua caminha de cocho
dormia bem sossegado.
Adoramos o Menino
nascido em tanta pobreza
e lhe oferecemos presentes
de nossa pobre riqueza:
a nossa manta de pele,
o nosso gorro de lã,
nossa faquinha amolada,
o nosso chá de hortelã.
Os anjos cantavam hinos
cheios de vivas e améns.
A alegria era tão grande
e nós cantamos também:
Que noite bonita é esta
em que a vida fica mansa,e
m que tudo vira festa
e o mundo inteiro descansa?
Esta é uma noite encantada,
nunca assim aconteceu,
os galos todos saudando:
O Menino Jesus nasceu!

Texto extraído do suplemento "Folhinha", jornal Folha de São Paulo, edição de 25-12-99, fls.14.

O homem que rezou seriamente para ser alimentado sem ter de trabalhar

No tempo do profeta David, havia um homem que costumava rezar noite e dia, dizendo; "Tu me criaste fraco e indefeso; dá-me pão cotidiano sem obrigar-me a trabalhar por ele". O povo zombava dele por fazer pedido tão tolo, mas ele ainda persistia e, por fim, uma vaca entrou em sua casa por conta própria, e ele a matou e comeu. Isso ilustra o hadith do Profeta, de que Deus ama quem pede seriamente, porque ele considera antes a sinceridade da oração que a natureza do que se pede. (...)

(Jalaluddin Rumi, MASNAVI)

Sugestão

Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar de noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos de pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

(Cecília Meireles)